Quando leio esse versículo sou invadido pelas boas lembranças do princípio dos anos 80. Tempo em que a moçada das igrejas ficava aguardando ansiosamente os lançamentos de Vencedores Por Cristo, junto às poucas livrarias evangélicas existentes. Lembro-me quando tomei o novo LP (você sabe o que é isso?) de VPC, Louvor III, e saboreei cada canção. Dentre elas me saltou aos olhos e aos ouvidos o Salmo 98, musicado por Nelson Bomilcar e Edy Chagas. Vinha num arranjo moderno, alegre, contagiante. É claro que o grupo de louvor da nossa igreja aprendeu a cantá-la, de forma não tão harmoniosa quanto ouvíamos no disco, porém, apaixonadamente.
Muita água rolou debaixo da ponte desde então. Em meados anos 80 uma revolução musical começou a acontecer no meio evangélico, se espalhando por todo o país. Grupos e mais grupos foram surgindo em todos os cantos, seguindo as pegadas de Rebanhão, Logos, Milad (Água Viva) e o sempre presente VPC, pai de todos. O "boom" foi tão grande que uma mídia "gospel" surgiu e foi aos poucos se solidificando. Nas livrarias evangélicas os pequenos balcões, que expunham os poucos LPs, foram crescendo e sendo substituídos por prateleiras enormes. Já era possível encontrar seções só de música, contendo partituras, cds nacionais e internacionais, vídeos e até vídeos-aula, ministradas por músicos evangélicos. Que maravilha!!!
Olhando tudo isso, volto meus olhos para o Salmo 98. Não falo da canção, mas da poesia do salmista Davi. Nela encontramos um maravilhoso conceito sobre louvor e adoração. "Cantai ao Senhor um cântico novo, porque Ele tem feito maravilhas". Descubro que a canção não é um fim em si mesma, ela não se basta. A motivação de cantarmos um novo cântico está ali explícita: porque Ele tem feito maravilhas. É o reconhecimento de que Deus tem cuidado de nós, tem nos sustentado com sua mão poderosa nos dando a vitória. Não há outro motivo porque cantar ao Senhor. Preocupa-me a onda que invade nosso meio, onde o mercado tem se tornado a razão principal das nossas canções, composições e gravações. As letras lentamente vão se esvaziando de sentido, vulgarizadas por chavões pré-estabelecidos, nada poéticos, nada convincentes. A música, com seu ritmo, harmonia e melodia, é empobrecida pela obrigação de se produzir uma canção que seja popularesca, de fácil assimilação, comercial. Afinal, precisamos vender. Ninguém grava um cd para ficar encaixotado.
O salmo nos ensina que quando reconhecemos o Senhor em nossas vidas, e nos oferecemos a Ele através de uma vida santa, o louvor e a adoração brotam em nossos lábios. Ele nos tem dado a vitória, mesmo que às vezes tenha cheiro de derrota para alguns. Ele tem cuidado de nós. Todas as ações de Deus em nossas vidas são perfeitas e tudo, isso mesmo, tudo coopera para o bem dos que amam ao Senhor. Quando reconhecemos esse grande cuidado, o louvor é apenas uma conseqüência. Como já disse alguém no passado, "adoração é troca mútua de amor". Ele nos amou primeiro. Quando devolvemos a Ele esse amor com que tem nos amado, adoramos.
Por isso o salmista pôde dizer "Cantarei ao Senhor um cântico novo". Eu não creio que ele esteja falando de uma nova música a cada encontro ou reunião. Entendo que Davi está nos ensinando a cantarmos sempre um cântico, quem sabe até mesmo aqueles desbotados pelo tempo, mas que se renovam a partir das novas experiências vividas com o Senhor. Você já sentiu um cântico antigo sendo renovado pelos encontros e livramentos de Deus em sua vida? Não são os novos cânticos que tornam nossa vida cristã mais bela. É a nossa caminhada sincera com o Senhor, diária e constante, que torna o louvor verdadeiro e mais rico de significados.
